segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Desacato ao Desencanto

Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...
A essas alturas as velas estão acesas, o choro é contínuo, As lembranças se alastram e faz rasgar o véu branco que cobre meu rosto. Há ainda quem festeje, àqueles que sussurraram baixinho o clamor da glória. Glória provinda da derrota. Ainda que encontrem a cura do mal, curar o mal em si não basta.
A vida nega a vida, você nega a sua e nós negamos a de quem será devastado por nossa inexorabilidade...

Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...
A essas alturas já sou um lixo orgânico, um lixo orgânico de péssima qualidade por sinal e sua principal função será contaminar o solo com seu corpo maléfico e a sorte maior deste bendito solo é que seus pensamentos não serão enterrados juntos, pois essa podridão de seus atos são reflexos de todo conjunto
De maldades planejadas...

Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...
A essas alturas já encontro outros mundos. Esse fato me constrange, não esperava outros mundos, assim como não esperei da vida a vida, a morte não poderia me trazer a morte, por isso decreto que meus pensamentos irão viver e permanecerem ativos na ação de todos aqueles que os conhece. E nós? estamos sempre negando a vida...

Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...
A essas alturas não encontro nenhum salvador. Nada de sagrado, nada de celeste, nada do que pode ser chamado santo. Não é por maldade, mas por esperança, lamento! O anjo negro que não encontro nas gravuras da missa, apresenta-se como o soberano, o salvador. Nega teu orgulho, tua honestidade, teu sacramento, tua carne ferve ao canto celeste...

Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...
A essas alturas estou puro, livre de saberes, livre de verdades contestadas, livres da busca por conhecimento,
livre da contestação do ser. Ser que se diz gente, pessoas, passos tortos, passos mórbidos, nossos mortos. Pessoas que correm, pessoas que procuram, pessoas que acham. Acham que a vida não se apaga ao nascer de um novo sol, à luz de um novo luar... 


Por favor, alguém me arranje um caixão, estou morto...

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